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Fundamental". Foi assim que o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) qualificaram o acordo sobre a participação política da guerrilha, anunciado na quarta-feira em Havana.
O documento é considerado um passo histórico na tentativa de acabar com o conflito armado no país. É o segundo acordo assinado desde o início das atuais negociações de paz. Em maio, foi fechado um tratado sobre terras e desenvolvimento rural.
Apoio
A pergunta é válida porque até mesmo nos momentos de maior apoio ao processo de paz – que começou em Cuba em novembro de 2012 – a grande maioria dos colombianos têm se mostrado contrários à ideia de ver os guerrilheiros das Farc competindo nas eleições em vez de cumprindo pena na cadeia por seus eventuais crimes.
Além disso, ainda está viva na memória dos cidadãos a violência por parte das Farc contra partidos políticos e movimentos sociais, além do assassinato de líderes sindicais, defensores de direitos humanos e ativistas do processo de restituição de terras.
Antonio Caballero, analista político
"As Farc cometeram atrocidades durante muitíssimos anos em todo o país. (Por isso), é mais fácil que os enviados da guerrilha e do governo chegem a um entendimento em Havana do que que esse acordo seja imediatamente aceito (por todos os colombianos)", disse à BBC o analista político Antonio Caballero.
"E o perigo do massacre sempre existe. O perigo do que se passou com a União Patriótica (UP)", disse, em referência ao assassinato sistemático dos membros desse partido de esquerda por grupos paramilitares de extrema direita, há 20 anos.
Tudo pela paz
Segundo Caballero, a aceitação de um possível acordo de paz por parte de alguns setores dependerá muito dos detalhes da negociação.
"Mas eu acredito que esse acordo vai ser aceito. Depois de tantos anos de guerra, a sensação de alívio será tão grande que acredito que os colombianos estão dispostos a engoloir muitas coisas", afirmou.
O deputado do partido de esquerda Polo Democrático, Iván Cepede, também está otimista. Ele é filho do último senador da UP, Manuel Cepeda, que foi assassinado em Bogotá em agosto de 1994.
"Essas pesquisas (em que muitos se mostram contrários à participação política das Farc) são feitas sobre uma base em que não se sabe qual será a mudança. É um cenário diferente quando a população vê que os ataques acabaram, que a violência diminuiu, que a guerrilha pode compensar as vítimas", afirma Cepeda.
"Se a guerra chegar ao fim, assim como essa cadeia infinita de mortes e de violência, com certeza a população vai estar disposta a aceitar esse acordo."
Mas para o ex-vice-ministro da Defesa, Rafael Guarín, ainda há um ponto-chave pendente para o acordo ser aceito.
"Os colombianos não estariam dispostos a aceitar um acordo preferencial a membros das Farc que cometeram crimes de guerra e violações graves de direitos humanos, dando a eles o direito de governar o país", afirmou Guarín à BBC.
"Por isso, primeiro é preciso definir esse ponto relacionado à Justiça", disse, em referência a uma das discussões que ainda não entrou em pauta em Havana.
Aprender com o passado
O deputado Cepeda também ressalta a existência de experiências anteriores bem-sucedidas, como a incorporação à vida polícita do grupo guerrilheiro M-19, desmobilizado em 1990.
"Eles também atuavam de maneira cruel e acabaram sendo incorporado à vida civil. E muitos de seus candidatos foram eleitos."
E um desses candidatos, Antonio Navarro Wolf, ex-governador de Nariño, concorda que o M19 é um exemplo que prova que, sim, é possível fazer essa reintegração.
Mas ele antecipa dificuldades no processo e ressalta uma diferença entre as negociações de hoje e as que envolveram o M19.
"Pela primeira vez, há uma oposição importante a se fazer concessões. Em 1990 havia uma unanimidade em relação à necessidade de se negociar e de se fazer concessões", disse Wolf à BBC.
Para Guarín, a chave para que se evite a repetição de situações domo as da UP está, principalmente, na efetiva desmobilização e no desarmamento total de tuda a estrutura das Farc.
Já Cepeda vai um pouco além: "A questão é construir um marco político, social e jurídico que garanta que a pessoa que abandone as armas não seja assassinada. E que permita que a sociedade confie realmente que essa reincorporação é possível e que as Farc fizeram sua parte em deixar as armas em prol da paz."
E a verdade é a de que só teremos uma ideia completa desse marco após o fim das discussões sobre o processo de paz.
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